31.8.05

A Favela

A favela
Ao fim do dia
Se revela
Cheia de luzes
Vadia

Acende a vela
Na janela torta
Vida amarela
Cidade morta
Baldia

Longe sentia
No fundo dela
A melancolia
A velha na porta
Banguela

A favela
Ao fim do dia
Se revela
Cheia de cruzes
Fedia

Adiv

Vida
insípida
vida
de insípido
e estúpido
bípede

Vida
insípida
vida
que trago
memória
do Rasgo

Sonho
incrédulo
sonho
de Cego
discípulo
cerrado

Sonho
incrédulo
sonho
que Morte
crepúsculocaso

30.8.05

belo e bruto

acendi um belo e garboso cigarro
e traguei charmoso profundamente
dele retirei viscoso catarro
e da janela do carro escarrei
grotesco e jocosamente

o brutal as vezes se desfarça de belo
e escarnece das mais frágeis mentes

escarre o mal como eu este pigarro

29.8.05

Ah! a menina

A menina sambava
ah! e como
jogava o cabelo
remexia
requebrava

A menina sambava
olhava de lado
se escondia
ah! e como
então mostrava

Ah! a menina sambava
e como
hipnotizava
desdém ela fingia
ria e gozava

A menina sambava
Me tentava
Retumbava
Explodia
E me amava

Ah! e como.

26.8.05

Cala

Cala mente insana
Que em sua vociferação
Meu coração maltrata
Cala-te então
Boca ingrata
Inumana

Cala mal abutre
Que desnutre e mata
Os olhos cegos deglute
Cala-te ave de rapina
Sombra de prata
Cafetina

Cala e escuta
Ao longe o cântico da puta
E a viola dedilhada

Cala e consente
O que aconteceu pobre mente
É que foras pilhada.

Cevantes

Cerveja
Carne
Cerveja
Cerveja
um pouco mais
de cerveja pra
carne ficar melhor

Sinto às vezes
uma vontade
de ritual
mas não consigo
a medida certa

um pouco mais
de cerveja pra

minha vontade
tem mão cheia
sempre
um pouco mais

ritual
na medida certa
é vontade de
um pouco mais

Carne
Cerveja
Carne
Carne

Mais
carne

(homenagem a um nobre amigo)

Amanhã

ninguém se lembrará
a novela de hoje é América
a novela de ontem
amanhã tem vale a pena ver de novo
no final do ano a retrospectiva
mas a novela de hoje
ninguém se lembrará

Deslize

Tropeço
e não mereço
o amor
que me tens
seja eu Louco
ou Excessivamente lúcido

Arthur, capítulo I

Se eu morresse hoje
pediria aos meus
(que de "meus" apenas têm o pronome)
que reconhecessem os meus Erros
e dissessem para si
"Foi alguém
que algo tentou"

25.8.05

Eu

"Esqueça!"
disse-me
entre enérgica
e suplicante
"Não."
retruquei
simples e sereno
"Meu Passado
fez de mim
Este
que Você
invariavelmente
Ama"
Então, calou-se

23.8.05

Daniela

As canções que cantei para ela
Naquela noite de lua quente
Foram de improviso de repente
De quem amou perdidamente
Morena Daniela

Falavam de carinhos pequenos
De curvas sutis e suspiros altos
De beijinhos ternos e sobressaltos
Murmuravam serenos
Daniela Daniela

Morena Daniela
Acaba logo comigo
Não me chame de amigo
Dá-me uma mordidela
Morena Daniela

As canções eu me esqueci
À noite lembro de ti
E sussurro um verso só
Denovo até me ter só dó
Morena Morena Daniela