30.11.06

Expõe-te podridão
humana
Deixa sair da casca
o verme
Despe tua máscara
profana
Entrega-te ao mundo
inerme

28.11.06

Desabafo

Quem inventou as palavras
devia ter tido o cuidado
de rimar algumas delas:
Mar e amor,
amor e desejo,
desejo e prazer,
Prazer e sexo,
Sexo e poesia.
Quem inventou estas palavras
Era um tremendo vigarista
Ou só queria nos dar mais trabalho
Ou já era um * concretista.

Labioredas

Aos lábios de fogo que sorriem
E lambuzam pink os lábios meus
Um grande beijo azul marinho
Da boca do mar do arpoador
Com dentes e linguas em ardor
Afiados e sedentes e com carinho
Dos meus lábios hábeis e dos teus
Lábios de fogo que sorriem e incendeiam
Um grande beijo azul clarinho
Lambuzado pink de desejo
Em labaredas ferventes de amor.

"Para a menina dos lábios de fogo"

22.11.06

...

Se tua virgindade fosse
como o fel que me amarga a boca
devoraria-te assim mesmo
e ainda lamberia os beiços

17.11.06

Vem chegando o Verão

Verão
De todas a pior estação
O suor dos corpos
traz consigo o odor dos mortos
O sol das praias
E o câncer de pele
A libido que espele
Dos desodorantes vencidos
A maresia e a insônia
A fumaça dos carros
Tanto barulho em meus ouvidos
As fofocas nas teles
As férias escolares
O sono dos mendigos
A poluição do verão
De gravata no escritório
Cães marcando seu território
E o cloro do vil mictório
Imbróglios de então
Que venham de gelo e em cubos
Que venham devidamente condicionados
Neste mês ardente de verão
Tão decadente

10.11.06

Minas

Minas
Minas é uma dilícia
Dilícia de cheiros
Dilícia de gostos
Dilícia os mineiros

Minas
Que não tem postos
Tem esquinas
Dilícia de meninas
Dilícia de moços

De meninos traquinas
E mininas de tranças
As mais belas crianças
Os mais belos esboços

Minas
Que sempre Gerais
Geraste em mim
Meus doces pais
Geraste sem fim
Horizontes

Belos Horizontes

Bruno Milagres 10.11.06 SP "Nunca quis tanto estar em Minas"

8.11.06

Carta a um amigo perdido

Óbvio
como é tudo tão óbvio
simplesmente esqueça
tudo aquilo que aprendeu
se emburreça
enlouqueça

É óbvio
pare de se preocupar
a fumaça é espessa
espessa demais para penetrar
não adianta nem tentar
desmereça

Que é óbvio
como tudo na vida
o maior dos tesouros
o descanso e os louros
só na ilha perdida
óbvio: perdida!

Então,
não tente encontrá-la
faça o óbvio
e tão somente o óbvio
na vida: se perca!
Vá! Pule a cerca!

Diálogos X

"Oi amor"
"Oi meu bem. Como foi o seu dia?"
"Foi um terror!
Aconteceu tudo o que não devia!"

"Hoje o Davi teve febre
levei-o ao seu médico
que é sempre muito gentil
o que foi muito benéfico.
Receitou bezetassil...
Coitado do Davi.
E não sabe hj o que vi?
Uma linda bolsa de vinil
e brilhantes... Não resisti.
Ah, e é melhor guardar seu carro
Hoje é dia de jogo
Antes que algum maléfico o quebre."

"Ah sei... Já vou tirá-lo.."
[Droga, ela nunca escuta o que falo..]

"Pronto amor."
"Oi meu bem. Como foi o seu dia?"
"Ótimo, não poderia ser melhor!"

[Ha quem diria que sou corno,
frouxo e outros adjetivos incentivadores.
Mas se a minha batata já está do forno,
a dela já passou do ponto horrores.]

[Médicos, bolsas, carros, estou farto.
Tirarei férias desta vida. Amanhã parto.]

7.11.06

Metrovimento

Outras paradas
Catracas safadas
Descaradas
Lambem bem as bandas
Lambidas noutras
Partidas
Em bandas de Cá e de Lá
De Fá e de Mi
Em altas batidas
Lá vem o metrô

Zunida parada
Da linha amarela
Em vasta manada
Nela aglutinada
Uma passadela
E mil desencontros
A pista esvazia
De gente vazia
Cujo olhar desvia
Em via de sonhos

Mais outras de encontro
Ao meu desencontro
Vem vindo pacatas
Espirros já fracas
Ou tiros matracas
Vem feias e belas
Vem em alcatéias
De pé e sentadas
Em Metrovimento
Ao léu sedimento

Bruno Milagres 07.11.06 SP "A cidade não para a cidade só cresce"

3.11.06

Reencontros

Novos centros
em seus ventres
sempre prontos
noutros e dentre
todos eles

Novos metros
vem a frente
novamente
outros dentes
todos eles

Novos pontos
de vista vistos
dentro em contos
cantos epicentros
mil momentos

Reencontros
semem e ventre
pés pedestres
em novos pontos
de encontro.