10.10.07

Minas em Mangueira

O que Minas tem de Mangueira...
Ah! Tantas manchas na memória
Aquelas, não saem jamais.

Mangueira
Onde a gente brincava
onde a gente pulava
onde a gente subia
e se lambuzava
e se divertia
e se encontrava.

Minas
Tem das sombras Mangueira
tem tambores Mangueira
tem teus morros Mangueira
E tem mineiras... ah, um amor!
Poderiam ser sereias
só que Minas não tem mar.

Mas vá lá!
Se o tivesse seria covardia.

Minas vem em minha memória
Cheia daquele teu calor
Do sabor das suas mangas
Do molejo das missangas
Das melodias de sua história
Que tão bem sei de cor

Mangueira...
Eu até arriscaria
que poderias ser mineira.
Ah, se poderia...

Mas Minas não tem mar.

III - LIBERTAS QUAE SERA TAMEN

Libertas
Que serás minha
também!

II

Libro ou Libra
O que te faz realmente libre?

I

LAVRA!

6.10.07

Amargo

Um figo maduro
Ao alcance dos olhos
Jamais saboreado

3.10.07

Doce

Uma figueira
Faço figa
De figos colher

~

Uma paixão sem til
Sem sombrancelhas
Só de centelhas
Sem brasa

Caso inventado
Sem labareda
Feito de ardil
Em água rasa

Era senil eu sei
Febre que dá e passa
Dessas que você disfarça
Mas foi assim que surgiu

Acredite
Uma paixão em mil
cem vezes mil talvez
O mais doce mel de abelhas
Melhor, a mais ávidas das coelhas
Um presente dos deuses
um raio que cai certeiro
um em um milhão
E logo na minha vez

Ah, era o til que me faltava.

Junho de 2007 - Estou atrasado...

10.5.07

Barquinho Poema Secreto

Havia mais daquilo que via

Via paz de lua de inverno
Via um cais e ao longe um barco
Ia feito de folha de caderno

Via escrito e dobrado um poema
Ia na rua de prata a braçadas de mar
Tão longe que nada se lia

Via quase nua e não a veria jamais
Ia em via de mão única
Pra onde o vento jaz

Ah, haveria mais?

Linhas e Corpos

As linhas do corpo são seguras
Perfeitamente lindas e taciturnas
Como semblantes matutinos
Em dias nublados e cinzentos
Seus dentes de completa alvura
Sorriem secos. Mentiras puras

A pele tenra cor de capuccino
Os dedos finos os lábios roxos
Os olhos negros de dragão
Tocam tortuosos belas figuras
Desenham em suas costas novas curvas
Perfazem distâncias além do destino

A fusão dos corpos é uma dupla ilusão
De sentidos e de sentimentos
A pintura é um exercício de imaginação
A escrita um exercício de memória e disposição
O silêncio um exercício de ternura
Ilusão não, mas deveria ser assim tão dura?

28.3.07

Ver o fim

fitava
tinha olhos graves

seu olhar entregava
o que pensava

via o passado
ali

via a história
que ali acabava

sem final feliz

e por um triz
não se desculpou

denovo
ocupou seu lugar

fitava
tinha olhos graves

23.3.07

O outro

O outro
É aquele que namora uma viúva
Sempre saudosa

Que saboreia uma uva de melancolia
De triste falta
de outro amor
amor nenhum
amor algum
de tez viscosa

O outro
É sempre uma pequena formiga saúva
De mordida dolorosa

12.3.07

Lembranças e Sonhos

Lembro de cada detalhe
Dos teus braços finos e curvos
Da penugem que os cobria
Que na luz era dourada
Dos olhos cheios e de um vermelho turvo
Que a quem fita certo inebria
Da sua mão na minha espalmada
Lembro como fosse entalhe
Nas minhas pálpebras
Todas as noites quando um sonho busco
Do semblante sorridente
Do sorriso sério da gente
Do brilho com que me ofusco
Sim, o sonho da bem amada

Lembro dos pelos arrepiados da nuca
E do beijo no queixo e do lábio selado
Da alça do vestido e do colo enquadrado
Das dobras dos dedos
Nos cabelos
No meu rosto
Num abraço

Lembro dos cafés, dos bares, da sinuca
Da concentração maliciosa dos lugares
Das conversas de gente maluca
Indo das montanhas aos mares
De cá pra lá
De lá pra cá
Um imenso espaço

Lembro de uma lua azul
De uma voz doce de mulher
“I’ll be a fool
as long as you’re there
It’s crazy, but I’m in love
Crazy, but I’m in love”
Sem tempo ou compasso

E lembro de cantar
E a Música só me faz lembrar
E a escuto bem baixinha
Quando invento de sonhar.

SP. 12.03.06 . Lembranças são como montanhas. Sonhos são mares.

27.2.07

Canto do Mar

No mar existe um qualquer canto
De peixe de água e de espanto
Que vem junto feito Iemanjá

Perfeito em seu conjunto
De borbulhos, sonoros marulhos...
São um bocejo feito Iemanjá

Direito e sim desconjunto
De ondas cristas dentre orgulhos
São um desejo feito Iemanjá

Doem no peito em pranto
Tamanho o encanto e respeito
Doem tanto...

15.2.07

Pandeiro

Toca
Batuca
No peito
um Pandeiro
Rarefeito
Cutuca
A maloca
No corpo
Inteiro
Na nuca
Bitoca
Mais boca
Muvuca
Na cuca
Pipoca
A Peruca
Toca
Matreiro
Sivuca
um Pandeiro

Pandoro

Ilusiona
Delude
Presto, digita dor
Dedilha
acres verbos
sobre campos de silício (ou de cilício?)

13.2.07

Sem Títulos I

Sou sincero e mentiroso
Amante das artes sou eu
Jocoso...
E muito vaidoso
Também sou poroso
E poderoso com palavras
Um dia decrépito, noutro nodoso
Sempre tremendamente preguiçoso
É vero... Porém não degenero.

Regenero cada dia um dia
Se quando jovem era idoso
Fui ficando mais gostoso
Adolescendo de euforia
Perdendo os pelos
Ganhando alegria
Pelos olhos de minha poesia.

8.2.07

Chuchuvinha

Ah chuvinha...

Se passeio por água
pingo letra

E debaixo de chuva
leito mágoa

Se demora uma légua
ando sem régua

Se molho de nuvem
brando a pensar

Se rumo pro mar
as pernas se movem

Se é mar de marulho
me calo sem ar

Se vejo a lagoa
Sorrio num pulo

Se um dia mergulho
Não volto a secar

Ah chuvinha...

2.2.07

Lira à aridez

Musa, ó Musa

que parte de chofre
sem mesmo levar

minh'alma que sofre
com grave pesar

Musa, ó Musa

que traz o espelho
que deixa no ar

oculta meu velho
jargão do pensar

Musa, ó Musa

aplaca meu vício
de viço estéril

no vão interstício
do vago mistério

Musa, ó Musa

de vil piedade
incita o desejo

expurga a saudade
devolve o ensejo!

31.1.07

Soneto em terra de cego

Ver é algo que nascemos sabendo
Mas nem tudo que vemos enxergamos
Aprendemos a enxergar vendo
E com a vida que vamos aos poucos levando

E quase sempre vemos errado
Enxergamos muito pouco do passado
E vemos um futuro onde não estamos
Quase sempre nos vemos enganados

Mas mesmo assim projetamos
Com o coração partido partilhado
entre o que temos e o que vemos

E se um bem maior vislumbramos
Descobrimos cegos nos olhos de quem amamos
O amor de que tanto carecemos.

Palavra Em Canto

Ah doce palavreado
que vai tecendo suas redes
de tênue ingenuidade

Faz do sim um afirmativo ser
Faz do não eterno alvorecer

Do teu secreto melado
que me submete a novas sedes
de finas sedas gramaticais
Experimenta um dia merecer
mais vaias que a mediocridade
de tantas palmas consoantes
e poucos aplausos vogais

Palavreado doce que rogais
aos tímpanos que lhe recebem
o silêncio do encanto.

Meiga menina

Menina meiga
que deita de lado
que tateia do namorado
um colo de amigo amado
um carinho quase delicado
um beijo adocicado
o simples deleite
deitado ao lado
de sua meiguice

Tolice?
Nada

Deixa apaixonado.

Religião

Templo é dinheiro.

30.1.07

Flor essência

Abro
meu coração lavradio
para que os sulcos provocados pelo arado
abriguem as marcas profundas
dos sítios em que brotam
as sementes

Pensamento I

A existência da Paixão não pressupõe a inexistência do distanciamento. Ela pode ser lúcida. É quando mais dói.

29.1.07

A Lua

Lua minha descobri porque me olhas
todas as noites que te procuro
simplesmente porque és um olho
o olho do escuro
da noite que pisca
delicadamente
a cada turno de marés
olho da mente
do deus noturno

olha quanta gente
vê em ti no firmamento
um alento permanente

olha lua minha
quanto sentimento
quanta covinha
de sorriso contente
quanto carinho
luazinha

ah lua minha
beijo-te a fronte
quando semi-serrada
procuras teu sonho
uma anjinha

e com lençóis de cubro
cheio de estrelinhas
todas elas minhas
para que hoje
naninhas

Desejo

Quisera eu



p e r d e r - m e



pelos Olhos
de única mulher
e Neles
VIVER
a felicidadincomparável
de um menino
que descobre algo
totalmente
novo

26.1.07

Do ente

Por que
sorvo
o estorvo
da língua?

É que
sou parvo
e não extirpo
a maldita íngua!

Concreto

Por que
a Parede
não me atravessa?

às avessas
verso a Parede
em controvérsia

Ode à Inspiração

Musa, ó Musa

de alma difusa
de ácido prelo

que sua beleza
meu gozo traduza

na mão que retesa
o arco singelo

Musa, ó Musa

de calma profusa
de tácito anelo

que sua leveza
meu pranto seduza

na chama acesa
do vago castelo

Musa, ó Musa

de sonho, de tanto
de viço e de pão

entrega-me o canto
remove-me o chão

soergue-me o manto
provê-me a Paixão!

Rastro

Caminho
com medo
e sem paixão
e assim traduzo
o exato contrário
do que sinto

25.1.07

Even closer

Ao amante
faz bem
............ olhar olhar Des olhar olhar
.... olhar cOn olhar olhar olhar olhar
..... olhar olhar olhar olhar cEr olhar olhar
.. olhar olhar taR olhar
Tanto quanto ADORmecer dESPERtA os sonhos.

Closer

Ao amante
faz bem
......................... Des
.. cOn
................... cEr
...... taR
Tanto quanto ADORmecer dESPERtA os sonhos.

24.1.07

Hã?

Perdi-me
por uma noite
ou duas talvez
em claros
de insone deleite
ao cheirotoque
da tez

23.1.07

O Sol

Mulheres são como o sol
que pela manhã te aprazem ao toque
e te bronzeiam a pele
e aquecem o coração resfriado pela noite
enrubescendo o viço
trazendo vida ao dia e certezas
com todas suas saborosas belezas
iluminando teu caminho
e esclarecendo teus pensamentos

Mas se por muito tempo
sob seus raios se prostrar
e não se proteger ou se refrescar
podem a mesma bela pele queimar
podem alucinar e enlouquecer
Para ficar sob seu eterno brilho
deves sempre se proteger

E lembre-se:
Não se deve mirar um sol diretamente
e permanecer vislumbrando seus raios solares
Eles podem deixá-lo cego
e bem ao certo podem muito mais

Deve-se amá-lo e senti-lo pos suas boas qualidades
mas nunca vigiá-lo ou buscar entender suas profundezas.

Bruno Milagres 22.01.06 SP

Mulheres a torto e a direito

Mulheres a torto e a direito
mas tu que és tão singular

e plural ao que diz ao tempo

és contentamento

tu que és movimento

a torto e a direito és meu bem amar

Tu que és mar
e que és do mar o vento
abra-te tuas velas a espalmar
conduz teus sentimentos
ao cais do porto
torto, mas mesmo assim
do vento morto traz-me o que me excede
o que me desmede
da sede o que bebe
do solto mar imberbe
faz-me um oceano sem fim
traz-me o que há de mais nobre em mim
o meu labiríntico recife
onde a vida me pede

pede tuas correntes de mar
pede somente teu lar
onde eu possa abraçar
teu eu enfim.

Bruno e Rubens 20.01 SP "Divagando... simplesmente vagando"

18.1.07

Bestétú, bestétú

Besta-me
besta-me muito!
come se fosse antani
la última vez

Besta-me
besta-me much!
que tengo scappellamento
a sinistra después!

Hoje

Grafo
umas tantas palavras
numa folha de papel
Não!
Reproduzo
em quinze polegadas
o rufar
de um tropel

17.1.07

Do Amor ao Jardim

Do amor ao jardim
fiz um canto de mim em pranto
dançando ao sabor do espanto
das mariposas de marfim, um tanto
que gargalhavam já sem fim
enquanto a sorridente lua e seu manto
de pequerruchas estrelinhas
piscavam em flerte assim
feito chapéu de bruxa
e eu me sentindo quase um santo
cantando na chuva Ai de mim

12.1.07

Soneto da Janela do Coração Vermelho

O meu coração pulsa no silêncio da noite
enquanto meus pés procuram sonolento alento
sob lençóis, sob camadas e camadas de puro cimento
sob o peso da noite noite adentro

Meu coração al dente ardente me expulsa
É semente e morango em pendente jardim
da janela que vem ao lado ao zeppelim
onde o olhar te procura... assim... avulsa...

Sim malemolente fruta do esconde
É minha musa do Nilo hoje e sempre
Onde? Agora só eu sei.

Pétala Flor vem me responde
Aquela donde o vermelho coração avistei
Eras tu? Só? Eu sei...

SP 11.01.07 Vila "...numa casa com um coração vermelho na janela."

9.1.07

Alto II

Borbolhinhas espumantes
Não parem mais de borbulhar
Como os fogos que explodem na praia
ou a flor de abraços de arraia
Borbolindo as belas meninas
Ou rindo dos borbolhas
Explodindo mais de mil rolhas
Abrindo um novo ano estelar.

8.1.07

Mundo

Massalto!
otrocodilo
acridade me ardia
no mapa na mão
ambívora
maldade

Fundo

Mãos ao alto
atrocadopassarada
a cidade me comia
na palma no pão
carnívora
caridade