28.3.07

Ver o fim

fitava
tinha olhos graves

seu olhar entregava
o que pensava

via o passado
ali

via a história
que ali acabava

sem final feliz

e por um triz
não se desculpou

denovo
ocupou seu lugar

fitava
tinha olhos graves

23.3.07

O outro

O outro
É aquele que namora uma viúva
Sempre saudosa

Que saboreia uma uva de melancolia
De triste falta
de outro amor
amor nenhum
amor algum
de tez viscosa

O outro
É sempre uma pequena formiga saúva
De mordida dolorosa

12.3.07

Lembranças e Sonhos

Lembro de cada detalhe
Dos teus braços finos e curvos
Da penugem que os cobria
Que na luz era dourada
Dos olhos cheios e de um vermelho turvo
Que a quem fita certo inebria
Da sua mão na minha espalmada
Lembro como fosse entalhe
Nas minhas pálpebras
Todas as noites quando um sonho busco
Do semblante sorridente
Do sorriso sério da gente
Do brilho com que me ofusco
Sim, o sonho da bem amada

Lembro dos pelos arrepiados da nuca
E do beijo no queixo e do lábio selado
Da alça do vestido e do colo enquadrado
Das dobras dos dedos
Nos cabelos
No meu rosto
Num abraço

Lembro dos cafés, dos bares, da sinuca
Da concentração maliciosa dos lugares
Das conversas de gente maluca
Indo das montanhas aos mares
De cá pra lá
De lá pra cá
Um imenso espaço

Lembro de uma lua azul
De uma voz doce de mulher
“I’ll be a fool
as long as you’re there
It’s crazy, but I’m in love
Crazy, but I’m in love”
Sem tempo ou compasso

E lembro de cantar
E a Música só me faz lembrar
E a escuto bem baixinha
Quando invento de sonhar.

SP. 12.03.06 . Lembranças são como montanhas. Sonhos são mares.